APRESENTAÇÃO
A vida é ...
Caminho e caminhar,
Horizonte e voar,
Céu e contemplar,
Esperança e confiar.
A vida é...
Dom e tarefa,
Descanso e despertar,
Respiração e pausa,
Consciência e prazer.
A vida é...
Quedas e aprendizados,
Chegadas e caminho aberto,
Segurança e desafio,
Brevidade e eternidade
A vida é...
Sonho e busca,
Luz e sombra,
Subida e descida,
Hoje e continuamente hoje. (Canísio Mayer)
“O mundo inteiro se abre quando vê passar um
homem que sabe aonde vai.” (Saint Exupéry)
O Diácono Fernandes procura, através deste livro, brindar-nos com detalhes de um Deus que, ao longo de sua vida, lhe dá vários presentes.
Olhar e viver cada minuto como dádiva de Deus é uma sabedoria que brota de um coração enternecido pelo amor. Mais do que história de uma pessoa, você encontrará pinceladas de um homem que observa, em cada vagão do trem da vida, a mão amorosa de Deus.
Que todos nós saibamos perceber, com sabedoria, que a vida é dom e há um Deus apaixonado que caminha conosco. Assim, nos altos e baixos, nas luzes e sombras, nas dores e alegrias, saibamos olhar, com admiração, o mistério da vida, pois, como dizia nosso querido D. Hélder, “há mil razões para viver”.
Dom José Luiz Ferreira Salles, CSsR
O TREM DA
MINHA VIDA
Diácono Fernandes
2009
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ...................................................................... 5
1 - O EMBARQUE ..................................................................... 7
2 - A ACOLHIDA .....................................................................11
3 - A INFANCIA ...................................................................... 15
4 - O ESTUDO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO .................................. 19
5 - AS NAMORADAS................................................................. 23
6 - A OUTRA METADE .............................................................. 26
7 – OS FILHOS ...................................................................... 28
8 – A VOCAÇÃO PARA O DIACONADO ........................................ 31
9 – A ORDENAÇÃO DIACONAL .................................................. 33
10 - O MINISTÉRIO DIACONAL ................................................. 36
11 – A LUA DE MEL ................................................................. 39
12 – A ÚLTIMA ESTAÇÃO. ........................................................ 41
EMBARQUE
Embarquei, no trem da vida, às dezoito horas e quarenta e cinco minutos do dia 30 de maio de 1948. Era um dia de domingo. O mundo destruído pela maldade e prepotência dos homens, tentava reerguer-se da segunda guerra mundial, e o Brasil vivia momentos conturbados na política, pois o presidente Getúlio Vargas acabava de ser deposto.
Embarquei, neste trem, impulsionado pelo Espírito do Senhor e pelos desígnios da natureza. Não houve um plano de viagem. Não houve uma preparação e nem uma programação; tudo aconteceu exclusivamente pela natureza e vontade de Nosso Senhor Jesus Cristo..
Como no inicio da criação o Senhor Deus providenciou criou todas as coisas, assim também Ele preparou o meu embarque neste trem da vida.
O Senhor Deus tinha um projeto todo especial para minha vida, com data, hora e local marcados para ser cumprido, logo eu tinha que embarcar naquele trem, com ou sem preparação e programação de viagem, por partes dos humanos responsáveis por aquele embarque.
Tal plano de viagem não fora definido, pensado pelos responsáveis, tudo aconteceu segundo os desígnios da natureza e nem precisava, porque aquele embarque estava previsto no plano de Deus. O Senhor tinha o Seu plano de viagem todo especial para minha vida.
As três primeiras estações foram muito obscuras e eu quase desembarquei. Meu pai, com um problema genético, cegara em serviço e não se tinha clareza da situação futura porque as leis trabalhistas do Brasil, criadas pelo ex-presidente Getúlio Vargas, acabavam de nascer, portanto, não tinham consistência e ninguém sabia se dariam certo. O principal meio de comunicação era o telégrafo movido pelo código Morse.
Nesta época, o machismo, a ignorância e o poder prevaleciam frente ao conhecimento, à ética e às normas de boas maneiras.
A principal responsável, pela minha vida fora uma menina de quinze anos de idade, nascida e criada no interior, sem nunca ter ido à capital, sem nunca ter visto o mar. Não tinha conhecimento de política, de leis, de ciências, de educação familiar, nem tampouco de procriação.
Mas, como Maria, Ela colocou=se a serviço da natureza e conseqüentemente do Senhor, e meditou em seu coração, “Faça-se em mim conforme a sua vontade” e a principal diferença é que não falou nada, entregou-se à vontade do Senhor, deixando tudo acontecer sem dizer nada e sem questionar nada. Era a vontade de Deus. E o Senhor Deus permaneceu e permanece com ela durante longos anos.
Neste intervalo de tempo, teve ela muitas alegria como o nascimento de seus 13 filhos, mas também muitos sofrimento e eu tive a honra e a alegria de acompanhar e testemunhar essas alegrias e esses sofrimentos, já que fui enviado como primogênito desta família.
Os sofrimentos de uma pessoa, principalmente de um filho ou filha de Deus, é para Glória de Deus. Os sofrimentos desta menina inexperiente, que tudo fazia por instintos maternos e desígnios do Senhor. Serviu para sua purificação e santificação.
Depois de tantos anos de penúria, teoricamente, quem a fazia sofrer saiu de cena. E aqueles cinqüenta e oito anos de sofrimento fazia com que ela sofresse por não poder mais sofrer.
Assim foi o meu embarque no trem da vida. Embarquei com uma venda nos olhos e ninguém sabia o destino dessa viagem.
Pelo despreparo dos responsáveis, foi grande a surpresa da família quando a viagem do Chico do Lindolfo começou a produzir frutos. Lembro-me de um fato quando um tio casado com a minha tia, chamado Pedro Paraibano, que Deus tenha compaixão de seu pecado, chegou para minha saudosa tia Luiza Albano e perguntou: “Ele presta?” Indagação causou grande repúdio por parte de minha tia, que fez as devidas correções de imediato.
Assim foi o meu embarque no trem da vida, pela pura graça de Deus, que age em todos nós. Como é comovente ver cegos andando em lugares de movimento, como nos metrôs de São Paulo, México ou Paris. “Ver sem enxergar”: uma força de vontade que é uma vitória. Se isto é maravilhoso, triste é ver pessoas de olhos abertos não enxergando nada e não querendo enxergar.
Jesus convida a olhar os sinais dos tempos e interpretar os caminhos de Deus: “Sabeis discernir o aspecto do céu, e não podeis discernir os sinais dos tempos?” (Mt 16, 3). Dentro deste trem da vida, o Senhor Deus tem estado comigo em todos os dias da minha vida.
Para o homem e a mulher de Deus, qualquer momento é o tempo da graça, pois Deus age sempre
Seria triste olhar só o passado ou só o futuro, sem focar o momento presente. Jesus diz: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta a própria dificuldade” (Mt 6, 34). Estar de olhos abertos é viver o tempo da graça. E, graças ao Senhor Jesus, mesmo nos momentos em que o trem atravessava os vales mais obscuros, estive sempre com os olhos bem abertos e vigilantes.
S. Agostinho dizia: “Tenho medo do Jesus que passa”, pois pode passar e eu não ver.
Nós gostamos de aproveitar as boas oportunidades porque podem não voltar.
A oportunidade da graça é o momento presente. É agora que Deus nos ama, nos salva e nos convida a estar com Ele. Isso é agir sob a ação do Espírito Santo, que inspira a viver a vida em plenitude.
Viver plenamente é fazer o bem agora, dentro da realidade em que vivemos.
Sinto-me agradecido pela contemplação desta Graça que o Senhor Deus me agraciou, não que seja merecedor, pois pelos meus méritos, não estaria aqui contando esta história, mas como Já mencionei por pura graça e benevolência do Senhor Deus.
Pois quanto mais nos abrimos ao Espírito, mais ele age em nós e mais poderemos dar respostas condizentes ao momento em que vivemos.
A resposta para tudo isso deve nascer do amor. Afinal, o Espírito é o amor. O mesmo Espírito que conduzia Jesus nos conduz também. Por isso podemos estar bem em todas as situações.
A Igreja está querendo descobrir os leigos, para fazer parte do seu ministério, tanto ordenado quanto extraordinário. É o momento oportuno de estarmos de olhos abertos e vigilantes, para ver para onde nos conduz o Espírito.
O próprio clero é chamado a buscar, com intensidade, uma novidade de vida de Igreja que seja para o mundo aquilo que foi Jesus.
Se nos fecharmos em nós mesmos, na nossa Igreja, seremos inúteis para este mundo que tem fome de Deus, pois o trem continua; acabei de embarcar.
( O restante com o autor )