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CAMINHANDO PARA JESUS
CAMINHANDO PARA JESUS

 

APRESENTAÇÃO

 

            O caminho para Jesus é sempre árduo: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (Mt 10,38).O caminho da cruz, no entanto, é a senda da luz: “Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andarás nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).

           A experiência profunda de Deus acontece no amor, afirma o diácono Francisco Fernandes ao iniciar suas reflexões. Muitas vezes experimentei a veracidade dessa afirmação. Tive a oportunidade de conviver com o diácono Francisco Fernandes de Almeida e de sentir a intensidade de seu amor por Deus e pelos irmãos. Por onde passa semeia carinho, afeto e acolhimento. Ao seu redor se reúne a comunidade familiar e a eclesial, bebendo da sabedoria que lhe vem do Espírito de Deus. Sabemos com certeza que, no tempo certo, Ele vem e dirige nossos passos...

            Obrigado, amigo, por tuas reflexões. São expressões singelas, mas autênticas do teu coração cristão e diaconal. As personagens, por ti escolhidas, balizam com seu testemunho o caminho no seguimento de Cristo.  Tens inteira razão, quando afirmas: Caminhar para Jesus é vocação e cada vocação tem um objetivo próprio. Teu objetivo é o de construir pontes, que permitem chegar bem perto de Jesus. Muitos passarão por elas. É difícil ponderar o bem que fazemos. Isto é secundário. Importa que o bem foi realizado.

         Como Francisco de Assis, podemos cantar: Altíssimo, onipotente, bom Senhor. Teus são o louvor, a glória, a honra e toda a bênção. Só a ti, Altíssimo, são devidos, e homem algum é digno de te mencionar.

 

 

Pe. Valter Maurício Goedert

Florianópolis - SC

 

 

 

 

 

 

 

 

                                          I – O CAMINHO

 

ONDE, QUANDO E COMO?

 

                 Caminhar para Jesus, nos tempos atuais, parece-nos utopia ou discurso de alienado, mas penso que não é uma coisa nem outra. Caminhar para Jesus é, sobretudo, reconhecer que temos um superior, um Pai amoroso que nos ama e ao qual devemos obediência.

               Caminhar para Jesus são reflexões espirituais para chegarmos ao belo ponto da união espiritual, que é meta da trajetória de todos os filhos de Deus. Que beleza este momento de união! Falar dessas realidades é sempre um desafio, pois exige a experiência pessoal. Para atingirmos esse objetivo, precisamos ver e seguir o exemplo de tantos mestres e, principalmente o de nosso principal paradigma: Jesus Cristo.

               Tudo porque Deus é Amor e manifesta-se por meio do amor. Somente por intermédio do amor poderemos ter acesso a Deus. Por isso rezamos: Ao Pai, pelo Filho, no Espírito, que é o Amor. O Espírito é como o vento, como ensinou Jesus a Nicodemos: “O vento sopra onde quer e ouves seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito” (Jo, 3-8). Deus se manifesta na ação do Espírito em cada um de nós. As ações de Deus em nós são modos diferentes de amar, os gerados pelo Espírito. Como infinitos são os dons do Espírito (não somente sete), infinitos são os modos de amar. Nós entendemos o amor como caridade beneficente para as pessoas, afeto na dedicação e nos relacionamentos. Mas, onde existem os sinais de Deus nas pessoas, ali estão os gestos do amor. A experiência profunda de Deus acontece no amor. Por isso admiramos nas pessoas cheias de Deus a criatividade pelo bem dos outros na dedicação e no empreendimento.

             A variedade dos frutos do amor é infinita, pois infinito é o Doador. Não podemos esquematizar. Os mestres espirituais quiseram colocar a ação de Deus em esquemas. Isso empobreceu a vivência cristã e sua compreensão.

            É necessário compreender as ações humanas a partir de uma presença atuante do amor de Deus, que penetra em tudo. Se um homem retira o lixo da rua, se planta, se ensina matemática, se pratica um esporte e tantas coisas mais, sempre está ligado ao amor. Não é amor quando se está voltado para o puro egoísmo. Aí mesmo pode haver um amor que clama para viver. Se déssemos atenção a essa dimensão em nossa vida, seria diferente nossa compreensão do Deus que age em nós.

            Santo Agostinho nos diz: “Ama e faze o que quiseres.” Quer dizer que amando faremos somente as obras do amor, do bem e de sua promoção. Não se trata de uma permissividade, mas do estímulo a deixar fluir, a partir de nós, a força do amor para realizarmos nossa missão. O amor só faz o bem. A força do amor não é um bom desejo de fazer o bem, mas nos atira com força para obras buscando o bem das pessoas. Tem gente que morre sem ter dado sua contribuição ao mundo. Somente usufruíram a bondade dos outros e de Deus. Isso é o que se chama de morte. Morreu por não amar. O amor é capaz de obras grandiosas. A grandeza não se mede pelo espetacular, mas pela intensidade de amor que pomos nas ações, mesmo nas menores.

         Em Deus não existe complicação. Deus é mistério, não é caos. Mistério é vida a participar. A aliança de Deus conosco foi realizada em pura gratuidade. Deus se comprometeu e cumpriu o compromisso. Amou-nos a ponto de entregar seu Filho como vítima (1Jo, 4-10), isto é, deu-se em entrega total para que a Vida se manifestasse em nós. Nossa parte na aliança é o compromisso de dar vida e dar a própria vida. Assim, como estamos com Ele, devemos andar como Ele andou. A vida cristã, como expressão de nossa união com Deus, não se concretizará em devocionismos e tradições, mas na “obediência” ao Espírito que nos conduz na vida de Amor, como conduziu Jesus. Ele, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo do amor (Jo 13,1). Essa é a atitude inspiradora para o compromisso de vida cristão, de forma que o amor possa se manifestar em suas mais variadas faces.

            Pode-se perguntar: E depois de tanta união, qual é o resultado para a vida do fiel cristão? A união íntima com Deus em Cristo se torna para cada cristão um modo de vida que cresce sempre mais, pois em Deus somos transformados de glória em glória (2 Cor, 3-18). Essa transformação acontece como na Encarnação de Jesus. Como Cristo se uniu totalmente à humanidade e a humanidade se uniu totalmente à sua Divindade a ponto de serem uma só realidade.

             A experiência pessoal é a união sempre maior com Cristo. Disso resulta esta união espiritual que atinge o ser da pessoa em sua constituição fundamental. Passa a ser um com Cristo, como Paulo escreve: “Eu vivo, mas não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2,20). É uma união que é vida em Cristo e vida de Cristo em nós, como uma só vida. Por isso, dessa união espiritual, na qual Deus permanece em nós, resulta que Cristo, em nós, continua sua Vida e Missão. É um elemento deixado de lado na espiritualidade. A vida cristã é uma continuação da presença de Cristo no mundo. Jesus continua agindo por meio de nossa união a Ele. Entendemos, assim, de onde vem a força dos que vivem unidos a Deus. Jesus dizia: “Aquele que crê em mim, esse também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas” (Jo 14,12). Jesus permanece em nós e age no mundo.

                  Precisamos rezar a oração de Salomão: “Senhor não me deixes mentir e não me deixes ficar rico ou pobre. Dá-me somente o alimento que preciso para viver. Porque, se tiver mais do que o necessário, poderei dizer que não preciso de ti. E, se eu ficar pobre, poderei roubar e assim envergonharei o teu nome, ó meu Deus.” (Pr 30, 8-9).

 

             Onde começamos esta caminhada para Jesus? Nesse relacionamento, o local não é importante, pois apesar de ser um relacionamento entre duas pessoas, uma delas está à disposição da outra em qualquer lugar. Jesus encontrou seus discípulos no mar da Galileia. Após sua ressurreição, apareceu-lhes a caminho de Emaus e em diversos lugares. Portanto, esse lugar para iniciar a nossa caminhada pode ser em qualquer lugar. Depende da disposição do seu coração, do seu esvaziamento. O lugar deixe por conta de Jesus, pois Ele saberá onde começar

            Quando iniciamos esta caminhada? A onipotência de Deus é absoluta e se deixa atrair pela despretensão. Não nos é permitido saber o tempo de Deus, importante é saber que Ele nos ama e sempre quer o que for melhor para nós.

 

          Como iniciamos esta caminhada? O Espírito Santo de Deus sopra quando quer, para onde quer e como quer. Sabemos com certeza que, no tempo certo, Ele vem e dirige nossos passos e, quando não pudermos caminhar, Ele nos carregará no colo, da maneira como fez com o discípulo que caminhava com Ele na areia da praia.

              O importante é não aspirarmos a coisas altas, pois não precisamos de muitas coisas para viver. O acúmulo de bens materiais nos torna escravos destes. A pobreza bem vivida pode ser fonte de felicidade porque a onipotência de Deus é atraída pela despretensão e simplicidade.

                Caminhar para Jesus é vocação e cada vocação tem um objetivo próprio. Esta precisa ser construída todos os dias, no caminho de Jesus, por  Jesus e com Jesus.

                   A vida cristã não se reduz à prática de mandamentos e de rezas. Ela é dom de Deus. Tudo o que somos e temos é dom. Deus é o ponto de partida de tudo, pois a vida, a salvação, o futuro, tudo nos vem Dele.

                 Jesus insiste: “De graça recebestes, de graça deveis dar” (Mt 10,8). Fomos criados por pura bondade de Deus; crescemos com o apoio de tanta gente, mas Deus é quem nos faz crescer. Jesus diz: “Por mais que pense, alguém pode acrescentar um palmo sua vida?” (Lc 12,25). É tão bonito ver as crianças crescerem. Puro dom! Como somos capazes da tantas coisas na vida? Contemplando os mistérios da Redenção, recordamos as palavras de Jesus a Nicodemos: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). E ainda: “Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos pecadores” (Jo 5,8). Tudo recebemos de graça.

            Ser amado e acolhido por Deus é também viver sua Vida. Caminhando para Jesus. Assim vivemos a Graça, isto é, a Vida que o Pai, o Filho e o Espírito Santo vivem na sua intimidade de Trindade. Graça não é algo intelectual, mas é como um abraço que acolhe.

            São João Evangelista, proclamando a Encarnação do Filho de Deus, apresenta a redenção como uma graça que vem da Graça, que é Jesus: “Todos os que O acolheram receberam graça sobre graça” (Jo1,16).

            A imensidão dos pecados foi superada ao infinito pela graça de Deus: “Onde existe o pecado, superexiste a graça”, diz-nos São Paulo. “A graça de nosso Senhor superexiste com a fé e o amor que há em Cristo Jesus” (1Tm 1,14). Não por mérito nosso nem pelas obras que praticamos, mas pela misericórdia de nosso Deus.

                 A redenção que Cristo nos ofereceu é dom maior do que o que podemos merecer. Ao acolher e colaborar com a graça, brotará em mim as atitudes que não são enfeites de uma árvore de Natal, mas frutos que nascem e são sustentados pela seiva da vida divina que corre em nós.

                 Ao acolhermos a Graça, não somente recebemos um presente do Pai, mas a participação de sua Vida e da comunicação existente entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Se vivermos a comunicação interna da Trindade, partilharemos também sua abertura em comunicar-se gratuitamente com as pessoas. Como Deus amou-nos antes que o amássemos igualmente, nós vamos tornar presente no mundo este modo de ser de Deus. Nessa perspectiva, nossa vida é uma bênção, nossas atitudes são manifestação da graça de Deus, nossas fragilidades não nos impedem de ser luz reflexa de Deus. Esta luz, passando em nós para iluminar os outros, deixa-nos mais unidos a Deus.

                 Por Deus e com Deus somos tudo em todos, no entanto, parece que nos esquecemos de Deus. O que vemos na sociedade é o esquecimento voluntário de Deus. Pode ser que seja um procedimento marcado pelo medo de não se suportar sua presença e complicarmos nossa vida. Para conhecê-lo mais e melhor, temos que entender o conceito de sagrado: Deus é “tremendo e fascinante”. Tremendo, quando nos apavoramos com sua presença, em virtude de nossos pecados e fugimos dele voluntariamente ou involuntariamente. Fascinante, quando o conhecemos e temos intimidade para nos lançar em Sua direção. Se há um afastamento, é porque não sabemos ainda descobrir quem Ele é, e como viver com Ele. Deus nos envolve por inteiro e está em nosso interior.

               Deus é o mais íntimo de nosso íntimo. É um Deus que nos toca. Não se trata de um panteísmo, no qual tudo é Deus, mas de uma presença. O toque divino se expressa em nós por meio das mais diversas maneiras. Nós O ouvimos nos elementos da natureza, nas pessoas e nos acontecimentos. Nós o vemos nas belezas e tristezas da vida; nas dores e nas alegrias; nas maravilhas do universo e na pequenez dos elementos; nos trabalhos e nas artes. Nós O percebemos no toque amoroso e no grotesco da maldade. E nos momentos dolorosos.

                 Para quem O acolhe, como nós que O conhecemos por meio de Jesus e, agora, por intermédio dos muitos modos à nossa disposição, temos a certeza de sua presença e podemos sempre buscá-lo. Podemos encontrá-Lo sempre à mão, não só como uma ajuda (se bem que Deus não é pronto-socorro nem supermercado gratuito). Está sempre próximo e atende imediatamente, como reza o salmo dizendo que ainda estava pedindo e já brotavam palavras de agradecimento. Mais que socorro, Deus é dado ao amor bondoso que nos acaricia. Nós fazemos silêncio para perceber as carícias da natureza e das pessoas, dos acontecimentos, sentindo o afeto que nos é demonstrado como carícias de Deus.

Para se tornar mais palpável a presença de Deus em nossa caminhada, Ele nos manda seu predileto Filho, Jesus Cristo, que, assumindo nossa humanidade, estende-nos sua mão para nos salvar de todas as maldades.

                 Quanto Jesus estendeu a mão para que os necessitados tivessem vida, saúde e sentissem carinho, como as crianças. Quando estendemos a mão, somos a mão estendida do Pai, que quer continuar amando, acolhendo, dando vida, consolando por meio de nós. A espiritualidade nos ensina a cada vez mais sentir a presença dele, que nos toca e atua por meio de nós.

               Deus tem interesse nesta caminhada, pois foi para isso que Ele nos criou. Para viver com Jesus, para amar e viver no amor e pelo amor, pois Ele é amor.

                Nos próximos capítulos abordaremos onde, quando e como alguns santos, patriarcas e profetas iniciaram sua caminhada para o Pai. Em todos eles podemos nos espelhar e seguir. Para isso, basta nos entregarmos aos caminhos do Senhor.